INTRODUÇÃO
Com isto pretendo demonstrar que, apesar de Real, esta família tinha, acima de tudo, uma vida familiar como qualquer outra: partilhavam opiniões, afectos, sentimentos, ideias.
A família real saiu de Vila Viçosa num landau até ao caminho-de-ferro com destino ao rio Tejo. Apanharam um barco que os levou ao Cais das Colunas, onde desembarcaram e retomaram a viagem até ao Palácio das Necessidades. A meio do caminho sofreram o atentado.
SAÍDA DO PALÁCIO DE VILA VIÇOSA
Era dia 1 de Fevereiro de 1908, estava um frio imenso e a família real dirigia-se a um landau que a transportaria até ao caminho-de-ferro de Vila Viçosa.
- Não sei porquê tanta insistência em ir para Lisboa tão cedo se estamos tão bem aqui! – Afirmou D. Amélia.
-Já te disse que preciso de ir para Lisboa tratar de uns assuntos! – Disse D. Carlos com irritação.
-Não os podia tratar aqui? – Perguntou D. Amélia.
- Não claro que não, o que em Lisboa demoraria semanas, em Vila Viçosa demoraria meses com a demora dos telégrafos – disse D. Carlos exasperado.
-Tudo bem. – Disse D. Amélia. - O que estás a ler Luís? – Perguntou D. Amélia com curiosidade.
-Estou a ler um livro de Eça de Queirós “ A Cidade e as Serras “- afirmou D. Luís com entusiasmo.
-Estás a gostar? – Perguntou D. Amélia.
-Sim, muito. Estou maravilhado com todas as tecnologias que o Jacinto usa. -Disse D. Luís.
-Hei-de lê-lo. – Afirmou D. Amélia.
-Tenho a certeza de que vais gostar. – Disse D. Luís embrenhado nas suas leituras.
-Então e a caçada? Foi ou não uma boa caçada Luís? – Afirmou D. Carlos orgulhoso com o sucesso da caçada.
-Sem dúvida meu pai, foi uma caçada muito bem conseguida. – Disse D. Luís também orgulhoso com a caçada.
-É pena o teu irmão ter voltado mais cedo para Lisboa, assim tinha vindo connosco e tinha-se divertido. – Disse D. Carlos.
-Tem toda a razão, mas para a próxima ele vem, com certeza. – Disse D. Luís.
-Chegamos! – Disse o cocheiro, anunciando a chegada a linha de comboios de Vila Viçosa.
A ESTAÇÃO DE COMBOIOS
-Ouvi dizer que vamos chegar um pouco mais atrasados ao barco, por causa de um descarrilamento á entrada da estação Casa Branca - Anunciou D. Carlos.
-Mas e então, como é que isso aconteceu? – Perguntou espantada D. Amélia.
-Já perguntei, mas não me foram dadas mais informações ainda não há novidades. – Disse D. Carlos.
-Não entendo como mesmo depois de tantos avanços na tecnologia, estas coisas continuem a ter falhas que custem vidas! – Disse D. Luís.
-São coisas que acontecem, é perfeitamente normal – Afirmou calmamente D. Carlos.
-Mas morreu alguém? – Perguntou D. Amélia bastante aflita.
-Ainda não sabem, como disse não me foram dadas mais informações! – Disse D. Carlos.
-Mas é natural que isso tenha acontecido, minha mãe, os descarrilamentos costumam causar sempre mortos. – Disse D. Luís.
-Ai, mas espero que não tenham sido muitos, coitados dos desgraçados que lá iam, para tais riscos mais vale ir a pé – Disse D. Amélia, cheia de pena dos viajantes desse comboio.
Houve um grande momento de silêncio no comboio, até que D. Luís se lembrou de dizer:
-Disseram-me também que hoje vai estar bastante bom tempo, em Lisboa, afinal até foi uma boa altura para irmos para lá, seremos recebidos com a simpatia de S. Pedro.
-Ainda assim, ninguém me convence que não teria sido melhor termos ficado em Vila Viçosa, estava-se lá muito bem. – Afirma com convicção D. Amélia.
-Tu e as tuas teimosias, não havia razão alguma para permanecermos em Vila Viçosa – Resmungou D. Carlos.
Houve um momento de silêncio, até que apareceu um moço de recados com uma carta:
-Tenho aqui uma carta para si, Sua Alteza! – Disse com uma vénia desajeitada o moço de recados.
-E vem da parte de quem, essa carta! – Interrogou D. Carlos.
-Vem da parte do tenente-coronel Alfredo de Albuquerque. – Disse o moço de recados entregando a carta.
-Deixe-me lá ver então essa carta! – Ordenou D. Carlos enquanto recebia a carta e a começava a abrir.
Toda a família, muito curiosa, esperava impacientemente que D. Carlos acaba-se de ler a carta e quando finalmente D. Carlos a acabou de ler entregou-a ao moço de recados, anunciando:
-Num landau, com toda a certeza!
-Perdão, é essa a mensagem que quer que eu dê, Sua Alteza – Perguntou o moço de recados desajeitadamente e começando notavelmente a corar por não ter entendido a ordem.
-Claro que é isso que quero que digas! – Disse D. Carlos impaciente.
-Com certeza, Sua Alteza. – Disse o moço de recados repetindo a vénia desajeitada devido aos solavancos do comboio.
-Uma boa tarde! Bom dia, perdão! – Disse o moço de recados, despedindo-se.
-Bom dia, e já agora – disse, dirigindo-se á família – vamos pedir agora mesmo o almoço, que já se faz tarde!
-Tens toda a razão – desculpou-se D. Amélia fazendo sinal ao empregado para que servisse a refeição.
-E então, meu pai, que carta era aquela? E para quê um landau? – Perguntou D. Luís.
-Tantas perguntas, rapaz, aquela carta vinha da parte do tenente-coronel Alfredo de Albuquerque, ele queria saber se eu preferia um landau ou uma carruagem coberta para irmos até ao Palácio das Necessidades. Vamos de landau, está bom tempo. - Explicou-se D. Carlos.
-Talvez um landau não fosse a melhor escolha, meu pai… - disse D. Luís.
-E porque não?! – Perguntou espantado D. Carlos.
-Por causa daqueles rumores, sabe… que andam espalhados por todo o país. Talvez seja melhor uma carruagem coberta… - explicou-se D. Luís.
-Tolices! Tudo tolices! Não nos há-de acontecer nada, rapaz! – Garantiu indignado D. Carlos.
E com isto silenciou-se a carruagem.
CONVERSA FLUTUANTE
A família real entrou no barco e foi recebida com grande pompa, tal como o evento pedia, foi servido o lanche começando então D. Carlos e D. Luís a banquetearem-se, já D. Amélia, por sua vez, remexia na sua comida com pouca vontade de a comer e parecia estar envolvida num transe de preocupação.
-Minha mãe sente-se bem? – Interrogou D. Luís preocupado.
-Sim. – Disse D. Amélia absorta nos seus pensamentos.
-Tem a certeza, a senhora não parece nada bem? – Perguntou novamente D. Luís preocupado.
-Não é nada, dói-me só um pouco a cabeça. – Disse D. Amélia.
-Estamos quase a chegar e é necessário que te ponhas bem depressa, não vá o diabo tecê-las! – Disse D. Carlos ainda saboreando a comida.
-Claro, acho que vou beber um chá – Disse D. Amélia desanimadamente.
-Mas é melhor comer qualquer coisa, que hoje jantamos tarde! – Disse D. Luís preocupado com o estado da mãe.
-Talvez, depois logo se vê… - disse D. Amélia dirigindo-se ao tombadilho do barco.
D. Amélia ficou a observar o rio, era um rio largo e bonito, mas D. Amélia não gostava de Lisboa, Lisboa dava-lhe náuseas inexplicáveis, e por mais encantadora que fosse a capital, D. Amélia não a suportava. Todos os anos D. Amélia ansiava impaciente para saírem daquela cidade e desesperava quando para lá voltavam, mas desta vez não queria mesmo voltar a Lisboa, pois os rumores que diziam que o rei podia correr grandes riscos de vida em Lisboa atormentavam-na. Nunca amara D. Carlos, mas ao longo dos anos começara a sentir uma certa afeição por ele. E o que aconteceria aos filhos? A D. Luís, o herdeiro, D. Amélia afastou esses pensamentos e concentrou-se no rio que corria lento. Mas aqueles pensamentos que poderiam desmoronar a sua família teimavam em voltar, D. Amélia não sabia o que fazer, mas a cada segundo, D. Amélia via cada vez mais aproximar-se diante de si aquela sentença, até que os seus pensamentos foram finalmente cortados com a chegada de D. Luís que trazia uma pequena travessa com bolachas e bolinhos:
-Coma alguns! – Incentivou D. Luís comendo um dos bolinhos. – Estão divinais!
-Não me apetece comer! – Disse D. Amélia com certa autoridade.
-Você é que sabe, mas aviso-a de que estão realmente deliciosos! – Disse D. Luís com carinho.
D. Amélia virou as costas ao filho e enfrentou o rio com o olhar.
-Bem, vou embora então – Disse o príncipe desanimado. – Mas aviso-a de que estamos quase a chegar e é melhor preparar-se! – Disse D. Luís com firmeza.
-Tudo bem, tudo bem! – Disse a rainha saturada.
Quando D. Luís entrou novamente dentro do barco D. Carlos perguntou:
-Então e a tua mãe? Ainda está lá fora?
-Sim, mas ela já entra. – Disse D. Luís. – Quanto tempo falta para chegarmos? – Perguntou D. Luís.
-Pouco, já consigo avistar Lisboa daqui, aquela cidade é linda! – Disse D. Carlos orgulhoso.
-É verdade, mas a minha mãe continua a não gostar muito desta maravilhosa cidade.
-É impossível de entendê-la, é mesmo impossível! Ela costuma divertir-se tanto em Lisboa – Disse D. Carlos indignado.
-Isso não é verdade meu pai, minha mãe não se diverte em Lisboa, nunca se divertiu.
-Mas Lisboa é onde ela mora á muito tempo, já se devia ter habituado!
De repente a conversa foi interrompida com a chegada do mordomo que pretendia avisar que estavam quase a chegar.
-Bem, eu vou chamá-la – Disse D. Carlos.
-É melhor – Concordou D. Luís.
D. Carlos dirigiu-se ao tombadilho onde D. Amélia se encontrava e disse:
-Estás pronta? Estamos quase a chegar – perguntou D. Carlos.
-Sim, quando partimos?
-Daqui a pouco. Passa-se alguma coisa? O Luís disse que não parecias estar muito bem á pouco. – Perguntou D. Carlos.
-Não, não se passa nada! Estou bem, mas é melhor despacharmo-nos, estou ansiosa por ver o Manuel, estou cheia de saudades dele – disse D. Amélia.
-Sim, há muito tempo que não o vemos, mas ele tem mandado cartas!
-Não é a mesma coisa… - contrapôs D. Amélia – Mas tudo bem, atracamos dentro de minutos, não é, temos de nos despachar! – Disse D. Amélia apressada.
-Claro não há tempo a perder! – disse o rei.
E com isto o rei, a rainha e o príncipe saíram do barco por volta das 17:00h e pelo meio da multidão dirigiram-se ao seu landau.
Minutos mais tarde juntou-se á família real o único elemento em falta, D. Manuel, e depois de muitos abraços e cumprimentos foram-se afastando da multidão acenando.
-Tinha imensas saudades tuas, Manuel – Disse D. Amélia com carinho.
-Também tinha saudades tuas! Á quanto tempo que não nos víamos, minha mãe!
Segundos depois… o estampido!
Informação retirada: do livro “História e Geografia de Portugal 6º ano”, Fátima Costa e António Marques; www.wikipedia.com;
Trabalho realizado por: Raquel Bessa Nº 18 Turma 6º B.
Sem comentários:
Enviar um comentário