Quando há sete anos escolhemos o nome do nosso Jornal, o título pareceu-nos original, interessante e moderno. Interessante porque “O Sempre” implicava continuidade, o desejo de manter por longos anos este projecto, o “Fixe”, porque nos parecia uma palavra apelativa para os alunos, que a usavam e usam com certo à vontade, ou seja, pareceu-nos uma palavra de “calão” juvenil, que seria compreensível pela comunidade discente da nossa escola. Logo, uma colega de História e Geografia de Portugal mais avisada, até pelo facto de o seu Avô, Cruz Caldas, ter sido um magnífico caricaturista e artista gráfico, alertou para o facto de o nome parecer ter sido o título de um outro jornal humorístico nacional nos idos anos 20. Ficou por aí o aviso, mas não a curiosidade.
Assim uma pesquisa ligeira feita pelo Coordenador do Departamento veio trazer achegas interessantes a esta coincidência.
Efectivamente o Jornal “Sempre Fixe” existiu, dando o seu primeiro número aos olhares do público no ano de 1926. Jornal humorístico de uma qualidade espantosa, teve uma vida relativamente longa, terminando a sua publicação no ano de 1961, ou seja, 35 anos de vida. Embora no início de periodicidade semanal, nem sempre pode manter esse ritmo de publicação, por vicissitudes várias, nomeadamente por ser claramente um Jornal, contra-poder, e por isso objecto de olho censório da Comissão de Censura, que várias vezes impediu artigos e desenhos de aparecerem. O “Sempre Fixe” tornou-se assim um periódico de crítica dos costumes nacionais, mais do que de “ferroada política”, todavia sempre objecto de atenção do orgão repressivo do Estado Novo que referimos. Aliás sempre que a censura cortava um desenho, uma ilustração, Carlos Botelho, que criou uma secção “Ecos da Semana” no Jornal, costumava na vinheta censurada, colocar um mocho, para dar a entender que ali tinha andado mão censória.
Fundado por Pedro Bordallo, seu primeiro director e editor e, pertença da Renascença Gráfica S.A.R.L , inspirado no espírito maravilhosamente satírico de Rafael Bordallo Pinheiro, neste belo periódico trabalharam nomes sonantes do desenho, da ilustração portuguesa como o já citado Carlos Botelho, mas também Stuart Carvalhais, Francisco Valença, Jorge Barradas, Roberto Nobre, Bernardo Marques entre outros.
Se dúvidas houvesse, sobre a importância deste “Sempre Fixe”, elas desapareceriam se informarmos os nossos leitores que foi nas páginas deste periódico que o “Zé Povinho” foi reconstituído, “ressuscitado” esquecido que estava, por Francisco Valença, como também grandes cartoons de Stuart Carvalhais, ou uma boa parte da obra gráfica de Almada Negreiros!
Como curiosidade, diga-se que tinha uma secção infantil, chamada “Petiz Jornal” com histórias aos quadradinhos e que se tentou a reedição de algumas das suas páginas como suplemento, no já extinto Diário de Lisboa.
Curiosa esta pesquisa sobre o Sempre Fixe dos anos 20.
ResponderEliminarEspero que este "nosso" Sempre Fixe não sofra dos mesmos males da censura de outras épocas ao outro Sempre Fixe pois ... só são permitidas críticas.