domingo, 16 de maio de 2010

CONVERSAS DA FAMÍLIA REAL...Antes do atentado

INTRODUÇÃO

Este trabalho fala das últimas conversas da família real, antes de D. Carlos e D. Luís morrerem.


Com isto pretendo demonstrar que, apesar de Real, esta família tinha, acima de tudo, uma vida familiar como qualquer outra: partilhavam opiniões, afectos, sentimentos, ideias.


A família real saiu de Vila Viçosa num landau até ao caminho-de-ferro com destino ao rio Tejo. Apanharam um barco que os levou ao Cais das Colunas, onde desembarcaram e retomaram a viagem até ao Palácio das Necessidades. A meio do caminho sofreram o atentado.

SAÍDA DO PALÁCIO DE VILA VIÇOSA

Era dia 1 de Fevereiro de 1908, estava um frio imenso e a família real dirigia-se a um landau que a transportaria até ao caminho-de-ferro de Vila Viçosa.

- Não sei porquê tanta insistência em ir para Lisboa tão cedo se estamos tão bem aqui! – Afirmou D. Amélia.

-Já te disse que preciso de ir para Lisboa tratar de uns assuntos! – Disse D. Carlos com irritação.

-Não os podia tratar aqui? – Perguntou D. Amélia.

- Não claro que não, o que em Lisboa demoraria semanas, em Vila Viçosa demoraria meses com a demora dos telégrafos – disse D. Carlos exasperado.

-Tudo bem. – Disse D. Amélia. - O que estás a ler Luís? – Perguntou D. Amélia com curiosidade.

-Estou a ler um livro de Eça de Queirós “ A Cidade e as Serras “- afirmou D. Luís com entusiasmo.

-Estás a gostar? – Perguntou D. Amélia.

-Sim, muito. Estou maravilhado com todas as tecnologias que o Jacinto usa. -Disse D. Luís.

-Hei-de lê-lo. – Afirmou D. Amélia.

-Tenho a certeza de que vais gostar. – Disse D. Luís embrenhado nas suas leituras.

-Então e a caçada? Foi ou não uma boa caçada Luís? – Afirmou D. Carlos orgulhoso com o sucesso da caçada.

-Sem dúvida meu pai, foi uma caçada muito bem conseguida. – Disse D. Luís também orgulhoso com a caçada.

-É pena o teu irmão ter voltado mais cedo para Lisboa, assim tinha vindo connosco e tinha-se divertido. – Disse D. Carlos.

-Tem toda a razão, mas para a próxima ele vem, com certeza. – Disse D. Luís.

-Chegamos! – Disse o cocheiro, anunciando a chegada a linha de comboios de Vila Viçosa.


A ESTAÇÃO DE COMBOIOS

-Ouvi dizer que vamos chegar um pouco mais atrasados ao barco, por causa de um descarrilamento á entrada da estação Casa Branca - Anunciou D. Carlos.

-Mas e então, como é que isso aconteceu? – Perguntou espantada D. Amélia.

-Já perguntei, mas não me foram dadas mais informações ainda não há novidades. – Disse D. Carlos.

-Não entendo como mesmo depois de tantos avanços na tecnologia, estas coisas continuem a ter falhas que custem vidas! – Disse D. Luís.

-São coisas que acontecem, é perfeitamente normal – Afirmou calmamente D. Carlos.

-Mas morreu alguém? – Perguntou D. Amélia bastante aflita.

-Ainda não sabem, como disse não me foram dadas mais informações! – Disse D. Carlos.

-Mas é natural que isso tenha acontecido, minha mãe, os descarrilamentos costumam causar sempre mortos. – Disse D. Luís.

-Ai, mas espero que não tenham sido muitos, coitados dos desgraçados que lá iam, para tais riscos mais vale ir a pé – Disse D. Amélia, cheia de pena dos viajantes desse comboio.

Houve um grande momento de silêncio no comboio, até que D. Luís se lembrou de dizer:

-Disseram-me também que hoje vai estar bastante bom tempo, em Lisboa, afinal até foi uma boa altura para irmos para lá, seremos recebidos com a simpatia de S. Pedro.

-Ainda assim, ninguém me convence que não teria sido melhor termos ficado em Vila Viçosa, estava-se lá muito bem. – Afirma com convicção D. Amélia.

-Tu e as tuas teimosias, não havia razão alguma para permanecermos em Vila Viçosa – Resmungou D. Carlos.

Houve um momento de silêncio, até que apareceu um moço de recados com uma carta:

-Tenho aqui uma carta para si, Sua Alteza! – Disse com uma vénia desajeitada o moço de recados.

-E vem da parte de quem, essa carta! – Interrogou D. Carlos.

-Vem da parte do tenente-coronel Alfredo de Albuquerque. – Disse o moço de recados entregando a carta.

-Deixe-me lá ver então essa carta! – Ordenou D. Carlos enquanto recebia a carta e a começava a abrir.

Toda a família, muito curiosa, esperava impacientemente que D. Carlos acaba-se de ler a carta e quando finalmente D. Carlos a acabou de ler entregou-a ao moço de recados, anunciando:

-Num landau, com toda a certeza!

-Perdão, é essa a mensagem que quer que eu dê, Sua Alteza – Perguntou o moço de recados desajeitadamente e começando notavelmente a corar por não ter entendido a ordem.

-Claro que é isso que quero que digas! – Disse D. Carlos impaciente.

-Com certeza, Sua Alteza. – Disse o moço de recados repetindo a vénia desajeitada devido aos solavancos do comboio.

-Uma boa tarde! Bom dia, perdão! – Disse o moço de recados, despedindo-se.

-Bom dia, e já agora – disse, dirigindo-se á família – vamos pedir agora mesmo o almoço, que já se faz tarde!

-Tens toda a razão – desculpou-se D. Amélia fazendo sinal ao empregado para que servisse a refeição.

-E então, meu pai, que carta era aquela? E para quê um landau? – Perguntou D. Luís.

-Tantas perguntas, rapaz, aquela carta vinha da parte do tenente-coronel Alfredo de Albuquerque, ele queria saber se eu preferia um landau ou uma carruagem coberta para irmos até ao Palácio das Necessidades. Vamos de landau, está bom tempo. - Explicou-se D. Carlos.

-Talvez um landau não fosse a melhor escolha, meu pai… - disse D. Luís.

-E porque não?! – Perguntou espantado D. Carlos.

-Por causa daqueles rumores, sabe… que andam espalhados por todo o país. Talvez seja melhor uma carruagem coberta… - explicou-se D. Luís.

-Tolices! Tudo tolices! Não nos há-de acontecer nada, rapaz! – Garantiu indignado D. Carlos.

E com isto silenciou-se a carruagem.


CONVERSA FLUTUANTE

A família real entrou no barco e foi recebida com grande pompa, tal como o evento pedia, foi servido o lanche começando então D. Carlos e D. Luís a banquetearem-se, já D. Amélia, por sua vez, remexia na sua comida com pouca vontade de a comer e parecia estar envolvida num transe de preocupação.

-Minha mãe sente-se bem? – Interrogou D. Luís preocupado.

-Sim. – Disse D. Amélia absorta nos seus pensamentos.

-Tem a certeza, a senhora não parece nada bem? – Perguntou novamente D. Luís preocupado.

-Não é nada, dói-me só um pouco a cabeça. – Disse D. Amélia.

-Estamos quase a chegar e é necessário que te ponhas bem depressa, não vá o diabo tecê-las! – Disse D. Carlos ainda saboreando a comida.

-Claro, acho que vou beber um chá – Disse D. Amélia desanimadamente.

-Mas é melhor comer qualquer coisa, que hoje jantamos tarde! – Disse D. Luís preocupado com o estado da mãe.

-Talvez, depois logo se vê… - disse D. Amélia dirigindo-se ao tombadilho do barco.

D. Amélia ficou a observar o rio, era um rio largo e bonito, mas D. Amélia não gostava de Lisboa, Lisboa dava-lhe náuseas inexplicáveis, e por mais encantadora que fosse a capital, D. Amélia não a suportava. Todos os anos D. Amélia ansiava impaciente para saírem daquela cidade e desesperava quando para lá voltavam, mas desta vez não queria mesmo voltar a Lisboa, pois os rumores que diziam que o rei podia correr grandes riscos de vida em Lisboa atormentavam-na. Nunca amara D. Carlos, mas ao longo dos anos começara a sentir uma certa afeição por ele. E o que aconteceria aos filhos? A D. Luís, o herdeiro, D. Amélia afastou esses pensamentos e concentrou-se no rio que corria lento. Mas aqueles pensamentos que poderiam desmoronar a sua família teimavam em voltar, D. Amélia não sabia o que fazer, mas a cada segundo, D. Amélia via cada vez mais aproximar-se diante de si aquela sentença, até que os seus pensamentos foram finalmente cortados com a chegada de D. Luís que trazia uma pequena travessa com bolachas e bolinhos:

-Coma alguns! – Incentivou D. Luís comendo um dos bolinhos. – Estão divinais!

-Não me apetece comer! – Disse D. Amélia com certa autoridade.

-Você é que sabe, mas aviso-a de que estão realmente deliciosos! – Disse D. Luís com carinho.

D. Amélia virou as costas ao filho e enfrentou o rio com o olhar.

-Bem, vou embora então – Disse o príncipe desanimado. – Mas aviso-a de que estamos quase a chegar e é melhor preparar-se! – Disse D. Luís com firmeza.

-Tudo bem, tudo bem! – Disse a rainha saturada.

Quando D. Luís entrou novamente dentro do barco D. Carlos perguntou:

-Então e a tua mãe? Ainda está lá fora?

-Sim, mas ela já entra. – Disse D. Luís. – Quanto tempo falta para chegarmos? – Perguntou D. Luís.

-Pouco, já consigo avistar Lisboa daqui, aquela cidade é linda! – Disse D. Carlos orgulhoso.

-É verdade, mas a minha mãe continua a não gostar muito desta maravilhosa cidade.

-É impossível de entendê-la, é mesmo impossível! Ela costuma divertir-se tanto em Lisboa – Disse D. Carlos indignado.

-Isso não é verdade meu pai, minha mãe não se diverte em Lisboa, nunca se divertiu.

-Mas Lisboa é onde ela mora á muito tempo, já se devia ter habituado!

De repente a conversa foi interrompida com a chegada do mordomo que pretendia avisar que estavam quase a chegar.

-Bem, eu vou chamá-la – Disse D. Carlos.

-É melhor – Concordou D. Luís.

D. Carlos dirigiu-se ao tombadilho onde D. Amélia se encontrava e disse:

-Estás pronta? Estamos quase a chegar – perguntou D. Carlos.

-Sim, quando partimos?

-Daqui a pouco. Passa-se alguma coisa? O Luís disse que não parecias estar muito bem á pouco. – Perguntou D. Carlos.

-Não, não se passa nada! Estou bem, mas é melhor despacharmo-nos, estou ansiosa por ver o Manuel, estou cheia de saudades dele – disse D. Amélia.

-Sim, há muito tempo que não o vemos, mas ele tem mandado cartas!

-Não é a mesma coisa… - contrapôs D. Amélia – Mas tudo bem, atracamos dentro de minutos, não é, temos de nos despachar! – Disse D. Amélia apressada.

-Claro não há tempo a perder! – disse o rei.

E com isto o rei, a rainha e o príncipe saíram do barco por volta das 17:00h e pelo meio da multidão dirigiram-se ao seu landau.

Minutos mais tarde juntou-se á família real o único elemento em falta, D. Manuel, e depois de muitos abraços e cumprimentos foram-se afastando da multidão acenando.

-Tinha imensas saudades tuas, Manuel – Disse D. Amélia com carinho.

-Também tinha saudades tuas! Á quanto tempo que não nos víamos, minha mãe!

Segundos depois… o estampido!


Informação retirada: do livro “História e Geografia de Portugal 6º ano”, Fátima Costa e António Marques; www.wikipedia.com;

Trabalho realizado por: Raquel Bessa Nº 18 Turma 6º B.


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